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Antecipar restituição de IR só vale a pena para quem tem dívida

Com o início da temporada de entrega da declaração do Imposto de Renda (IR), começa também a oferta dos bancos de crédito para a antecipação dos recursos da restituição, que será paga pela Receita Federal entre junho e dezembro. A tentação de ter um dinheiro extra em mãos o mais rapidamente possível é grande, mas essa alternativa só é indicada, basicamente, para quem tem dívidas a pagar, cujos juros são mais altos do que essa linha de crédito.

Os juros cobrados para essas operações de crédito nos grandes bancos de varejo começam em 1,79% e vão até 6,87% ao mês. Na maior parte dos casos, essas taxas são inferiores à média cobrada na maior parte das modalidades de empréstimos às pessoas físicas. Essa média, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), é de 7,29% ao mês, mas pode passar de 12% no caso do cheque especial e cartão de crédito. Conhecer essas taxas é importante na hora de tomar a decisão de fazer essa antecipação de crédito.

— Quando se tem uma dívida com custo maior do que os juros que o banco vai cobrar para antecipar o IR, a operação que compensa. Você vai trocar uma dívida mais cara por uma mais barata — ensina Carlos Eduardo Costa, consultor de educação financeira do Banco Mercantil do Brasil.

É preciso ter em mente, porém, que há riscos. Nesse tipo de operação, o banco libera o crédito com base no valor a ser restituído e no protocolo de entrega da declaração à Receita Federal. É possível antecipar de 75% a 100% do valor a ser recebido. No entanto, se o contribuinte cair na malha fina, a restituição pode atrasar. Se o problema não for resolvido até a data estipulada pela instituição financeira para a devolução do empréstimo — na maior parte dos casos, dezembro —, a operação será liquidada de qualquer forma. Aí será preciso ter recursos para quitar à vista ou, então, pegar outro financiamento para não ficando devendo.

USAR PARA CONSUMO, SÓ EM EMERGÊNCIA

Para quem não tem dívidas, antecipar a restituição do IR não é uma boa ideia. Afinal, como os juros serão descontados, o consumidor irá receber menos do que o montante previsto na restituição. Além disso, é preciso ter em mente que esses recursos são corrigidos pela Taxa Selic — atualmente em 6,75% ao ano — até sua liberação.

— Antecipar esse dinheiro para consumo só vale se for algo urgente, no qual seja possível negociar um desconto no pagamento à vista. Esse desconto precisa ser maior que o juro da operação. Se para o período do empréstimo o juro chegar a 10%, então o desconto precisa ser acima disso — explica Costa.

Martin Iglesias, especialista em investimentos do Itaú Unibanco, também defende a antecipação do IR apenas para quem está endividado. Para quem está com as contas em dia e não tem a preocupação de pagar juros, ele aconselha esperar o dinheiro cair na conta para, então, investi-lo.

— É importante ter uma reserva para emergências de ao menos três meses os gastos da pessoa. Quem já tiver essa economia pode juntar o dinheiro para aposentadoria ou na diversificação dos investimentos — diz Iglesias.

Para quem vai começar a poupar, a indicação é escolher uma aplicação que tenha liquidez, ou seja, que possa ser resgatada a qualquer momento. Ele sugere fundos DI (que acompanham a variação dos juros) com taxas de administração abaixo de 1%.

Segundo os bancos, a maior parte das operações para antecipação do IR é para quitar dívidas. No Banco do Brasil, a linha é oferecida a quem já fez empréstimos semelhantes em anos anteriores e que, atualmente, tem dívidas mais caras.

— É uma linha que não impacta o limite de crédito do cliente. Abordamos aqueles que têm compromissos financeiros com taxas mais caras. É uma forma de eliminar alguma dívida — diz Orlando Costa, gerente executivo da diretoria de empréstimos.

O banco espera que os desembolsos para essa linha tenham um crescimento entre 5% e 8% neste ano. No ano passado, chegaram a R$ 455 milhões.

— Geralmente, quem antecipa logo quando entrega a declaração é porque está com dívidas mais caras para pagar — diz Costa.

Além de estar com o recibo de entrega da declaração em mãos, é preciso também ter optado por receber a restituição no banco em que se vai tomar o crédito. Dessa forma, o empréstimo é quitado quando do pagamento da restituição, reduzindo o risco para a instituição financeira.

 


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